VIOLÊNCIA URBANA

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Nos últimos anos, temos percebido o aumento dos índices de violência urbana, ou seja, aquelas praticadas nas ruas, como assaltos, seqüestros, chacinas, torturas, e porque não incluir a violência doméstica (praticadas no próprio lar) e agora temos a violência nas escolas, que vão desde o bullying (Palavra em inglês que não tem tradução para o português. Termo utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo (bully - «tiranete» ou «valentão») ou grupo de indivíduos com o objetivo de intimidar ou agredir outro indivíduo incapaz de se defender), chegando ao homicídio.



A população se encontra em estado de alerta com o crescimento da violência que varre nossas cidades. Parece que os cidadãos é que se encontram presos em suas casas, enquanto, os bandidos tomam conta das ruas e das escolas. Confirmando esta assertiva, a seguinte expressão tem sido muito usada pelas pessoas, “A gente ta ficando com medo de sair de casa”.
Já é tempo da sociedade se conscientizar de que, violência não é ação. Violência é, na verdade, reação. O ser humano não comete violência sem motivo. A violência funciona como um último recurso que tenta restabelecer o que é justo segundo a ótica do agressor. Em geral, a violência não tem um caráter meramente destrutivo. Na realidade, tem uma motivação corretiva que tenta consertar o que o diálogo não foi capaz de solucionar. Portanto, sempre que houver violência é porque, alguma coisa, já estava anteriormente errada. É essa “coisa errada” a real causa que precisa ser corrigida para diminuirmos, de fato, os diversos tipos de violências.
A violência se manifesta no dia-a-dia. Às vezes, até inconscientemente, agimos com violência. Isto acontece em nossa casa, no trânsito, no trabalho, na escola, em diversos locais. Não há como fugir da violência. Infelizmente, somos obrigados a conviver com esta situação. Isto não significa acomodação ao sistema. Pelo contrário, convivemos no mundo violento, procurando (re)agir positivamente. A violência, ao assumir tamanhas proporções nos dias de hoje se constitui em desafio à nossa paz.
Então fica a pergunta, como garantir o Shalom (paz como fruto de justiça) em nossas cidades? É importante que as nossas experiências locais e/ou pessoais, sejam sim, transformadas em paradigmas, em exemplos, para comunidades maiores, a experiência micro do nosso lar, pode ser ampliada para a urbe onde as ruas e os lares estão inseridos, para o Estado onde a cidade está inserida... Esta visão transformadora que é importante.
Não podemos falar da paz, sem introduzir o conceito da justiça. A justiça é o elemento fundamental da ordem cósmica (mundo). Para os israelitas esta ordem cósmica é conhecida como sedeq – justiça é o mundo em ordem; o mundo é, portanto, ordenado em justiça. Para alcançar o shalom é necessária a prática da justiça. Assim, a paz é selada no cumprimento da justiça. Então, quando teremos a paz? Teremos a paz quando essa justiça tomar conta do espaço público, quando do lado de fora dos nossos portões também existir paz.
Não podemos achar que a paz que Cristo fala é uma paz privatizada. A paz como fruto da justiça, ela é pública, vai além de uma paz pessoal (estado de espírito), e ela garante algo mais. A compreensão de shalom deve ser apreendida a partir de uma de suas raízes: shlm, que significa “totalidade’, tanto no sentido de não faltar nada como no de estar intacto”. Representa, portanto, um estado de integridade, harmonia, inteireza e unidade. Shalom não é simples ausência de guerra, significa muito mais que isso. Refere-se ao círculo de idéias relativas ao ‘bem-estar-social’. Este bem-estar-social possui uma dinâmica (trilogia) que garante a realização pessoal, comunitária e nacional.
Assim, defendemos que para a construção de um mundo mais pacífico devemos criar novos paradigmas éticos, que possam superar a utopia moral contemporânea. Devemos começar pelos nossos lares e amplia-lo para o espaço público, construindo atos de cidadania. Quando construímos atos de cidadania, no espaço público, a gente está promovendo a paz (Jr. 29,7). Nós não vamos entender a paz pública, se a gente não se esforçar por construí-la, ela não vai acontecer sozinha. Aí vem o desafio importante.
Como a paz no espaço público vai se dar se não houver comprometimento por parte das pessoas. Como se dará no meio da sociedade se as pessoas não se envolverem com isso? Garantir no espaço público o direito do diferente é fundamental, aí sim, nós temos paz. Como sinalizador de construção de paz, no espaço público. Todas as vezes que você freqüentar um espaço público, você precisa se sentir a vontade. Todas as vezes que você freqüentar o espaço público e ter desconfiança de alguém que está do seu lado, então você fica esperto, porque você não está garantindo a discussão da paz nesse espaço. Toda vez que ficamos temerosos e ressentidos no espaço que a gente convive, isso significa que aquele espaço não é um espaço que garanta a nossa paz.
O shalom acontece, necessariamente, na relação humana; não é algo que alguém possa vivenciar na esfera privada. É necessária a presença do outro: shalom ganha sua visibilidade na pluralidade do espaço público. Ou seja, sem comunidade, sem espaço público, sem o diferente, não há construção do shalom. As pessoas precisam viver com as diferenças (dificuldades).
É oportuno enfatizar, que o Evangelho deixado por Jesus é uma ferramenta que habilita as pessoas a serem promotoras de atos de cidadania e conseqüente resgate da dignidade humana. O Evangelho produz novas perspectivas quando nos inserimos na realidade para transformá-la por meio de novas ações, fazendo uso de um dos valores centrais do Evangelho que é a encarnação.
Por fim, a solução se encontra no Deus que se revela e que desde Caim, oferece ao homem a oportunidade de abandonar a violência. A Bíblia é a própria Palavra de Deus, isto é, Sua revelação e, somente por meio dela, podemos ser capazes de produzir qualquer boa obra. Assim, a violência só será vencida pela revolução do amor que começa no Deus Trino e passa a ser vivenciada, por pura Graça, entre os homens.
Sola Christus!
Sobre o Autor:
Lucas Estevam
Policial Militar, Cristão de confissão evangélica, desigrejado, Bacharel em Teologia pela Faculdade de Teologia da Universidade Metodista de São Paulo - UMESP, Bacharelando em Direito pela Universidade Bandeirante de São Paulo - UNIBAN e Tecnólogo de Polícia Ostensiva e Preservação da Ordem Pública I e II, pela Escola Superior de Sargentos - ESSgt da PMESP. Estou me preparando para servir melhor a Deus, me dispondo a romper as barreiras entre o indivíduo e a sociedade, procurando analisar as relações e inter-relações entre os indivíduos, grupo sociais e contexto social. Propiciar atenção as pessoas em geral que estejam carentes de serem ouvidas, independente de sua confissão religiosa e apresentar a verdade cristã de forma simples e acessível a quem tiver interesse. Sou casado com Maria Helena, tenho um filho de 18 anos, o Lucas Júnior.

Um comentário:

  1. Excelente a matéria!
    Abordada de forma simples, mas muito convincente.
    Sou pastor de uma pequena igreja, inserida em uma comunidade que de baixa renda na Cidade do Natal. Mas não vejo outra alternativa, senão a de sermos uma igreja da comunidade. Ainda estamos querendo dar os primeiros passos nesse sentido, que é desafiador para quem ainda não aprendeu a andar. Mar vamos nos aventurar, pois certamente essa é a vontade daquele que é o cabeça, o Senhor Jesus, que andava praticando "atos de cidadania".

    Obrigado Sr. Lucas Júnior.

    Pr. Marcos Alves.
    Missão Batista Betel
    Natal/RN

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