TRIBALISMO COMO FONTE DE RESISTÊNCIA

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A Bíblia fala amplamente sobre a cidade, embora nas primeiras páginas, esteja ausente, dando lugar ao Paraíso. Contudo na última página da Bíblia, porém, é a visão da cidade nova, universal e eterna. Encontra-se nela o paraíso, mas, aqui, situado na cidade. Assim, a Bíblia nos descreve uma longa viagem da humanidade, do campo à cidade. Entretanto, a cidade e o campo opõem-se com freqüência, na Bíblia, como dois pólos, e as tensões entre os dois pólos trazem o reflexo da dialética da história pela qual Deus faz passar o seu povo.



No período pré-Israel, a cidade tinha o controle dos camponeses que viviam ao redor. A cidade com uma pequena parcela de campos ao redor formava uma unidade política: a cidade-estado. A cidade por sua vez, submetia os camponeses explorando seu produto, pois, a elite não era latifundiária. Explorava por ter o controle das armas e a lógica da religião a seu favor. A exploração era, portanto, tributarista. Não muito diferente dos dias atuais. Em oposição a esta opressão, é estabelecido o tribalismo.
Criam uma sociedade sem opressor, rei ou faraó. Formam, um anti-modelo: anti-opressão, sem cidades... Nesta Descentralização da sociedade está sua unidade. A família camponesa é quem controla a terra e destina para si e, às vezes, para seus parentes, o produto dela. Já não há tributo, porque não há exército, nem rei, que necessitam do tributo para não trabalhar. O tribalismo é igualitário, porque tudo é decidido na família. Aí todos têm o que comer, participam da sociedade em suas possibilidades. Todos produziam, consumiam e defendiam esta sociedade. Porém, havia tensões – desigualdades – em termos de conflitos sociais internos.
A monarquia venceu o tribalismo como projeto social que excluía o Estado. Mas o tribalismo jamais deixou de existir. Antes de tudo, é preciso ver que o tribalismo é, em seu contexto, o modelo social mais avançado, mais moderno, mais criativo. Na grande família todos se completam; tem suas tarefas específicas dentro de um sistema avançado da divisão do trabalho, sem exploração.
Para entendermos este movimento, que carrega a ideologia messiânica, é preciso conhecer a crítica profética contra os monarcas, onde o rei acumula riqueza, explora e empobrece o povo trabalhador, além de construir uma ideologia capaz de ofuscar os olhos de povo crente e fiel, contestando, até mesmo, a autoridade de Javé.
Assim, a reflexão cristã sobre a cidade não só compromete a ação pastoral propriamente dita, isto é, a ação da Igreja institucional, como também o conjunto da conduta cristã, ou seja, da sua ação temporal.
Comentário feito a partir do livro Teologia da Cidade, de José Comblin.
Sobre o Autor:
Lucas Estevam
Policial Militar, Cristão de confissão evangélica, desigrejado, Bacharel em Teologia pela Faculdade de Teologia da Universidade Metodista de São Paulo - UMESP, Bacharelando em Direito pela Universidade Bandeirante de São Paulo - UNIBAN e Tecnólogo de Polícia Ostensiva e Preservação da Ordem Pública I e II, pela Escola Superior de Sargentos - ESSgt da PMESP. Estou me preparando para servir melhor a Deus, me dispondo a romper as barreiras entre o indivíduo e a sociedade, procurando analisar as relações e inter-relações entre os indivíduos, grupo sociais e contexto social. Propiciar atenção as pessoas em geral que estejam carentes de serem ouvidas, independente de sua confissão religiosa e apresentar a verdade cristã de forma simples e acessível a quem tiver interesse. Sou casado com Maria Helena, tenho um filho de 18 anos, o Lucas Júnior.

2 comentários:

  1. Bom conteúdo ta me ajudando na faculdade de Teologia.

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  2. Muito bom texto para estudantes de teologia, inclusive eu. Parabés

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